Wednesday, April 18, 2007

A Menina do Dedo Podre.

Capítulo 01
Sexta-Feira a Noite


Eram cinco horas da tarde. O sol queimava impiedosamente as pessoas lá fora, e apesar de ter chovido de manhã, aparentemente ia ser uma noite clara. Tão conveniente para sexta-feira a noite! Carolina olhava as pessoas da janela, tão apressadas, correndo, ou tentando correr, o que deixava o trânsito ainda mais caótico. Fez uma cara de desdém e deu as costas para a rua. Deu uma bebericada no café que estava segurando e voltou para a sua mesa. Sentou-se calma e relaxadamente, apoiando as costas no encosto da cadeira e fechando os olhos. Quando preparava-se para tomar mais um gole do café, seu celular tocou. Desajeitadamente, Carolina colocou a xícara em cima de uns papéis que estavam em cima da mesa, e tentou tirar o celular do bolso do jeans.

- Merda, porque eles fazem esses bolsos tão apertados?

Conseguiu enfim tirar o celular do bolso, sem ficar com a mão entalada e precisar passar vaselina nela. Levou o celular ao ouvido sem sequer olhar o identificador de chamadas.

- Alô?
- Caralho, Carol! Por que demorou tanto pra atender esse telefone? Tava trepando no horário de expediente? - disse a voz do outro lado da linha, irrompendo em risadas.
- Guilherme
?
- Não, sua mãe. - Carol ficou em silêncio - Claro que sou eu, mulher! Queria saber quais são seus planos pra hoje a noite.
- Eu estava pensando em pegar um filme, abrir um vinhozinho, e...
- Vai ter alguém com você? - disse Guilherme interrompendo bruscamente a fala da outra.
- Não, mas eu to louca pra...
- Ah! Significa então que você vai calçar suas pantufas, colocar um roupão por cima do pijama, assistir novela e brincar de velha frígida.
Carolina olhou pra sua mesa, onde estava a sacola da loja onde tinha acabado de comprar pantufas novinhas. O rapaz prosseguiu.
- Eu tenho uma idéia muito melhor, e que condiz muito mais com uma pessoa da sua idade numa sexta-feira a noite.
- E qual é?
- Vamos a um coquetel na loja nova da Taeko Kiz. em Ipanema. Já coloquei seu nome na lista. E eu não aceito não como resposta.
- Mas eu não...
- Ai, amiga, tenho que ir agora - disse ele, cortando novamente - Me liga quando você chegar em casa pra eu poder te pegar. Beijos!
- Gui?

Ele já tinha desligado o telefone. Carolina então se jogou contra o encosto da cadeira e fechou os olhos. Estava pensando no martírio que seria ter que sair de casa, e decidiu não ir. Depois encontrava uma desculpa boa pra dar ao seu amigo.

Abriu os olhos, pegou a xícara de café e deu uma golada. Quando olhou para a mesa, viu que tinha manchado os papéis que tinha deixado ali, com o fundo da xícara de café.

- Merda!

Ainda com a xícara de café na mão, tirou um lenço de papel da bolsa, molhou a ponta dele com uma lambida. Colocou a xícara de café na beirada da mesa, longe dos papéis, e começou a esfregar aquela mancha redonda em cima do seu artigo. Esfregou suavemente, mas vendo que a mancha não saia, esfregou com mais raiva do que vigor, fazendo a mesa balançar, até que sua xícara caiu em cima da sua perna.

- Merda! – gritou, estressada. Pegou sua bolsa do chão e levantou com pressa.

- Pra mim chega por hoje. Estou indo pra casa!

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